Abuso Sexual contra Meninos quando a agressora é mulher adulta : um assunto que pouco se fala
- Paula Carolina
- 2 de set.
- 3 min de leitura
Pouco se fala sobre meninos que sofreram abusos advindos de mulheres adultas. Esse tipo de caso dificilmente é denunciado, pois, a sociedade comumente trata essa ocorrência como "sorte" e mera "iniciação sexual precoce", em completa distorção, primeiro pelo ato em si, segundo pelo silêncio que acaba envolvendo este mesmo ato, justamente por conta dessa distorção social.
Esses meninos passam a carregar marcas profundas no corpo, na psiquê fragmentada, na confiança e afeto ao feminino dilacerados sem que entendam de onde vem tanta raiva, desconfiança e descontentamento. Em alguns casos, cresce dentro deles uma revolta contra as mulheres em geral, sem que compreendam que a origem disso tudo está na invasão que sofreram.
Dificuldades em estabelecer relacionamentos saudáveis, confusão entre carinho e violência, impulsos sexuais desregulados, disfunções sexuais e até mesmo tentativas de negar as dores com vícios e comportamentos autodestrutivos são consequências comumente encontradas naqueles que sofreram esse tipo de trauma, e, podem se arrastar por toda a vida, se não tiverem coragem de olhar para essa dor que trazem consigo.
Com aval dos clientes, que hoje são maiores de idade, conto aqui duas experiências de atendimento: um que sofreu aos 14 anos e outro aos 16 anos abusos de mulheres adultas: Em ambos os casos havia confusão, medo e um misto de sentimentos que difultavam que eles reconhecessem que aquilo que tinham vivido era uma violência, diante do mito social de que homem gosta de sexo em qualquer circustância, que culminava no questionamento constante se estavam errados por se sentirem mal pelo que lhes aconteceu.
Uma culpa constante misturada com vergonha se faziam presentes com constância em suas vidas, pois, eles acreditavam que, de certa forma, haviam sido responsáveis ou que "permitiram" algo que nunca deveria ter acontecido, como, por exemplo, terem seguido as respectivas mulheres adultas para onde elas queriam levá-los. Tinham dificuldade de compreenderem que foram seduzidos e manipulados por suas imaturidades, por essas mulheres adultas.
Após o ato forçoso, ambos passaram a ter medo de relatar o ocorrido, pois, seriam julgados de "frouxos" ou poderiam ter suas sexualidades questionadas. Questionamento esse, que, se perpetuou como autoquestionamento em um deles, pois, sentia que sua orientação sexual havia sido forçada, e, ele se questionava se realmente sua orientação sexual era essa mesma ou só foi porque sua vida sexual começou assim.
Ambos chegaram a romantizar, algumas vezes, os abusos, como se tivesse sido um "prêmio" ou que "tiveram sorte" na inciação sexual precoce, ainda que sem consentimento, pois, para os poucos que conseguiram contar o que lhes ocorreu, foi isso que escutaram, ao som de gargalhadas e até parabenizações, causando-lhes uma imensa confusão de sentimentos.
Ambos se sentiam sem valor e conviviam com a sensação de não serem dignos nem de respeito nem de amor, e, passaram a apresentar comportamentos de risco e de autodestruição, que foi o motivo pelo qual me procuraram. Era raiva reprimida por tais acontecimentos.
Um deles passou a nutrir raiva difusa pelas mulheres, ou seja, ele cresceu nutrindo hostilidade e desconfiança em relação às mulheres no geral, sem compreender que a raiz desse sentimento foi o abuso que sofreu. Essa raiva era reflexo do trauma, e, afetava vínculos familiares, amizades e poderia afetar futuros relacionamentos.
O outro já era o oposto: ele acabou ficando compulsivo por mulheres, mas, nunca conseguia se satifazer, e, passou a apresentar uma série de disfunções sexuais, fazendo até mesmo de forma precoce, uso de estimulantes. Era reflexo da situação de abuso.
Um deles tinha dificuldade em confiar em qualquer tipo de pessoa e se abrir com familiares e amigos sobre qualquer assunto. Ele tinha medo de qualquer tipo de intimidade. Também era reflexo desse acontecimento.
Ambos apresentavam ansiedades constantes, momentos depressivos constantes, crises de pânico, uma tristeza profunda e um vazio interior que não conseguiam explicar, vazio este que constantemente era preenchido por alguma compulsão principalmente com justamente sexo e com comida.
Portanto, abrir espaço para a escuta desses relatos é de suma importância para rompimento do ciclo de proteção dessas agressoras que aprisiona as vítimas. Esses meninos precisam de acolhimento, dignidade e compreensão, pois, não foram "homens precoces" : foram crianças violentadas! Eles foram vítimas! A transformação começa quando a sociedade para de romantizar a violência e passa a olhar nos olhos desses meninos, reconhecendo suas dores!
Aqui, esses meninos tem voz!
Por Paula Carolina.
02/09/2025.

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